Tocou a
campainha e uma senhora veio atendê-lo. Boa noite! O Sr.Miguel está?”
Sim...pode entrar. Subiu por uma escada lateral da casa e entrou numa sala
pequena. Havia um sofá ao lado da porta e outra porta, num dos cantos. Uma mesa
com uma toalha de seda, com um vaso de cerâmica azul e uma rosa branca. Ficou ali
esperando pacientemente, até que ouviu chamá-lo daquela porta entreaberta.
Entrou. Um senhor de mais ou menos 60 anos e roupa clara estendeu-lhe a mão e
pediu para fechar os olhos. Levou pelos braços até uma cadeira parecida com uma
espreguiçadeira e disse em voz baixa, quase sussurrando: “Sente-se!”
Ainda de
olhos “quase fechados", percebia uma luz branca acesa bem fraquinha.
Encostada na parede, uma mesa com algumas imagens que não conseguia distinguir
por conta da pouca claridade. Um livro que parecia uma bíblia ao centro, um castiçal ao
fundo, algumas pedras entre os objetos. “Relaxe e escute a música..” Era uma sinfonia. Não sabia quem era o autor e resolveu apenas escutá-la
sem a obrigação de descobrir. Foi relaxando, deixando-se envolver por aquela
música suave. Aquele senhor, perguntou seu nome e começou a lhe contar
histórias com a voz muito baixa. Quase não se ouvia, porque a música, que
estava em volume também baixíssimo confundia-se com a sua voz. Contou que
quando tinha uns nove anos, corria com os amigos num matagal próximo da sua
casa no interior de Minas Gerais, em brincadeiras daquelas típicas de corrida. Isso havia se passado lá pelos anos 60, tempos em que a violência não
era tão exacerbada quanto hoje. E numa destas brincadeiras, deparou-se com uma
cena. Um homem, com uma roupa clara, quase sentado no chão, de costas para ele.
Umas velas acesas, objetos no chão que não sabia o que era, pois o homem fazia
uma parede entre a sua visão e os tais objetos. Como era criança, parou e
ficou observando o que aquele homem fazia ali, “protegido” por uma distância de
aproximadamente trinta metros. Não havia nenhum arbusto para se esconder e
estava ali, em pé, apenas observando sem entender muito. Não passaram mais do
que trinta segundos. Aquela pessoa calmamente foi virando o corpo para trás
como num filme de câmera lenta, bem devagar. Sentiu um vento soprar as árvores
em volta dele e antes que o campo de visão daquele homem virasse completamente
e ficasse de frente, não teve dúvidas. Saiu em disparada, vendo somente de
canto de olho que ele havia virado por completo. Nesse momento, Emiliano
quase caiu da espreguiçadeira e o senhor o socorreu. “Você está bem?”
“Sim....estava sonhando”. O homem então lhe disse: “Fique em paz”,
Tranqüilize-se." E por aí, não acredite em tudo o que vê, nem faça julgamentos
precipitados. Às vezes, avaliamos as coisas, apenas por impressões, sem saber o
que aquilo quer dizer, ou o que significa. Ouça, confie na intuição.
Respire...Por hoje, terminamos, pode ir pra casa. Na outra semana retorne.
Saiu da sala e desceu as escadas. No portão, aquela mesma senhora que havia lhe recebido na chegada, lhe deu a rosa branca e
disse: “Leve-a com você !”...
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