sábado, 28 de março de 2015

Não deixe para amanhã...

Bateu no portão e aquele cheiro de café quente chegou como um vento suave. Parecia que a fumacinha do bule estava embaixo do seu nariz. Sorridente, caminhou até o final do corredor daquela casa antiga, sendo recebido por aquele "mar de plantas" na parede crua, ainda sem acabamento. Largou a bolsa na mesa da entrada da casa e entrou. 

Sentou no sofá, enquanto a sua avó contava histórias do sítio do irmão, no interior da cidade de Tobias Barreto. Lembrou que um dia esteve lá, no mesmo sítio, colhendo cajus e chupando laranjas no pé. Nesta época, devia ter uns onze anos. Sentado no sofá, a voz dela foi sumindo, ficando mais longe, sumiu... Não havia gostado muito daquela viagem por conta das diferenças na alimentação. Muita comida estranha, coisas que nunca havia visto, nem provado. Era cajuína, bolo feito com uma farinha diferente, clara e úmida, ovos com um fubá no café da manhã e outras especiarias locais. Mas, havia uma coisa que realmente chamava a atenção. Os sapos ao anoitecer. E não eram comuns, eram bichos de pelo menos um quilo cada. Apareciam aos montes, achava engraçado, mas tinha medo de andar no escuro e pisar num deles. Eram escuros e se misturavam a cor da noite. Onde se escondiam durante o dia ? 

Naquela região, fazia um calor infernal e a pergunta sempre ficava. Onde eles estão? Procurava nos pés de milho, encostados na cerca do vizinho e nada. Atravessava a rua num terreno na frente, cheio de mato e nada também. Que mágica era aquela ? Como eles faziam para suportar aquilo?  Então, ficava a espreita, esperando chegar sete da noite, mas nem era preciso. Bastava escurecer um pouquinho e aos poucos eles iam dando sua cara. Uns maiores, outros menores, barulhentos, marrons. Uma sinfonia de "instrumentos de sopro", sax tenor, barítono, para todos os gostos. Lembrou que completaria quase 50 anos e não encontrara a resposta. E claro, os sapos e a avó não podiam mais lhe responder tal dúvida.
---------------------------
Seja membro deste blog.
Sugestões, críticas: oblogdodespejo@gmail.com
--------------------------------