domingo, 15 de janeiro de 2012

Música sempre é cultura ?

Desde os tempos em que estudava na EEPG Prof. Anézio Cabral, ouço que “música é cultura”. Os mestres ensinavam que a arte, música, pintura refletem o estado de espírito dentro da sociedade ao longo do tempo. É verdade pura !!

Anos depois, pra “arrematar” este ensinamento, durante o segundo grau, tive um excelente professor que dava aulas de História em conjunto com a Música, num método até então totalmente inovador para os padrões da época. E explicava as razões desta tese. Nunca esqueci o nome dele, aprendi a admirá-lo, porque quando jovem, tinha vontade de ser professor de História também. A este professor, Sr. Milton Fernandes Duarte, tenho profunda gratidão e o coloco no patamar dos três melhores professores que tive na vida por várias razões. A principal delas é fomentar a nossa capacidade de análise e questionamento das coisas. E para entender melhor o porquê da minha admiração ao mestre, cito aqui o nome do excelente livro “MOVIMENTOS CULTURAIS DE JUVENTUDE”, destinado a estudantes secundaristas.

Feito o comentário inicial, vamos ao título. Dia destes, estou parado na avenida num semáforo, aqui perto da minha residência. Quando você está em um ambiente que conhece, até se esquece das normas básicas de segurança, o que não é bom, vide os inúmeros assaltos em SP. Certo que minha cidade ainda tem um certo ar “provinciano”, apesar de quase um milhão de habitantes, o que ainda permite algum desleixo.

Eis que um carro parou ao meu lado no semáforo. Por um momento, percebi que o meu rádio parou de funcionar. Pensei, “não é possível, deixe aumentar o volume!”  Nada...estava em 27 fui ao 37 no volume do rádio. Não conseguia ouvir. “A rádio deve ter saído do ar”.

Mudei de estação e fui ao máximo do rádio (volume 45), apenas para testar,. Ouvia um sinalzinho longe. “Espere aí...tem algo errado”. Foi quando abri o vidro do meu lado e uma “bomba sonora” invadiu o interior do carro.. O cara ao meu lado, ouvia aquilo que chamo de “funk do subsolo”...e claro com os vidros abertos.

Aquela letra de péssimo gosto, aquele monte de palavrões gratuitos num volume altíssimo, aquela música sem propósito. E o pior, chamam isso de FUNK ? E vende igual a alface na feira. É um verdadeiro absurdo. Como pode?

Desde que me conheço por gente, quando escutava a palavra FUNK, geralmente estava associada a uma música de boa qualidade. Vc pode até não gostar do estilo, mas dizer que bandas como WAR, Isley Brothers, KC and the Sunshine Band, ou George Mcrae, Jimmi Bo’Horne, etc, não são do primeiro escalão, aí é demais.

Quando tinha 15 ou 16 anos, os adolescentes da minha idade tinham uma grande vontade e necessidade de descobrir coisas novas, interessantes, que pudessem lhes proporcionar algum aprendizado. E olha que não havia internet e todas as facilidades existentes. Ou seja, a informação se democratizou, em resumo ficou mais fácil entender, aprender o porque das coisas. Tudo está aí pra quem quiser buscar.

Isso que chamo de “funk do subsolo” poderíamos por exemplo tirar a letra “n” e colocar o “c” no lugar pois assim ficaria com um nome de estilo musical mais apropriado. O verdadeiro FUNK não é isso que ouço nas avenidas todos os dias, às vezes de madrugada quando vc está dormindo, exausto do trabalho. Alem de péssima qualidade, num volume de encher o saco de qualquer um.

Voltando ao carro, fico pensando o que se passa na cabeça destas pessoas. Qual é a necessidade de que tem com que os outros saibam o que elas estão ouvindo. Qual a razão deste tipo de atitude? Onde está o “barato” disto aí? 
Seria isso é uma “praga mundial”? (Claro que não, é uma ironia, um exagero). É de madrugada, no sábado a tarde, no Natal, aniversário do fulano de tal, etc, etc. Isso é chato pra caramba. É só ter um motivo qualquer e lá vem aqueles motoristas e seus carros alegóricos com o “volume a pino” com esse tal “funk”

Quando escuto uma música que gosto é normal aumentar o volume. Sim...para mim, pra uso pessoal, para o espaço onde me encontro, por respeito aos meus vizinhos. O som do carro do infeliz no semáforo, dava pra ouvir nos três quarteirões. Olha, me perdoem pelos meus pensamentos pouco católicos, mas naquele momento me deu vontade de pertencer a um grupo fundamentalista.Fiquei imaginando aquele carro desaparecer nos ares como poeira, ao som de “I’m so bad do Motorhead”. Coisa de moleque, do seriado “Beavis and Butthead”.

Opa,..olha o stress...preciso me acalmar, rs. Hoje não se pode falar com muita veemência. O grupo de “direitos humanos” pode me processar. Vou eliminar estes pensamentos da mente. Vamos pensar em algo mais leve. Quem sabe trancar aquele cara uma semana sem comer nem dormir, no próprio carro com os vidros fechados, num deserto. Então, colocaria no cd player do próprio carro, a discografia completa do Slayer no volume máximo.

Se vc se identificou com este personagem do semáforo e o “funk do subsolo”, não se preocupe, ainda há salvação.  Quando chegar em casa, vá ao youtube ver estes caras que falei um pouco antes e aprender o que é Funk de verdade. Ah...cuidado com o volume pra não incomodar os vizinhos. No final do texto, segue uma sugestão do gênero pra quem quer conhecer o ritmo verdadeiro. Só não vou fundar uma igreja pra isso, porque teria muito trabalho pra tirar “tanta gente deste vício”, RS.  Bem, com isso ao menos aliviou meu sentimento fundamentalista inicial. Abs!

Para quem quer conhecer ou gosta de dançar, deixo uma sugestão de (12) Funk’s de VERDADE. Ouça!!

1 -You get me hot – Jimmy Bo’ Horne
2 - Outstanding – The Gap Band
3 - You don’t know – George McRae
4 - Brick House – The Commodores
5 - Dance across the floor – Jimmy Bo’Horne
6 - Fire – The Ohio Players
7 - Give it to me baby – Rick James
8 – I can’t see the light – Brass Construction
9 – Make it Funky – James Brown
10- Play the Funky Music – Wild Cherry
11 – Supersticious – Stevie Wonder
12 – The Jungle – War
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** Atenção: a canção mencionada no último parágrafo da coluna anterior, (Vc está me ouvindo?), é “Ocean Rain” do Echo and the Bunnymen.
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domingo, 1 de janeiro de 2012

Você está me ouvindo ?

A anfitriã abriu a porta da casa e eles entraram. Havia muita gente no local, aquele clima gostoso de festa, muita comida na mesa, uma alegria explícita, afinal não é todo dia que se consegue juntar toda a família e tanta gente. Estavam quase todos os parentes,  amigos, primos,  tias, mães, irmãos, sobrinhos, etc. O aparelho de som, num volume um pouco mais alto que o habitual, tocava uma canção dos Beatles...”Qual era mesmo o nome? Ah sim, era You’ve got to hide your love away..”

Aquele rapaz que ouvia atentamente a canção, momentaneamente “apagou”. Estava ali somente de corpo presente. Os pensamentos foram tão longes que ao seu lado alguém chamava, por uma, duas, três vezes e não respondia. Parecia entorpecido pela harmonia daquela música. Sentia uma grande melancolia com aquela letra tão singela. “Here I stand head in hand…turn my face to the wall…If she’s gone I can’t go on…feelin two-foot small…Hey, you’ve got to hide your love away”. É uma melodia muito bonita, pensou..

“Ei…ei…vc está me ouvindo?” Alguém ao lado insistia na pergunta, até que lentamente foi voltando à realidade. “Perdão...estava distraído.”

O colega nem tinha percebido que ele havia “desligado”. Dizia que gostava muito daquela canção e que a música tinha um poder mágico de transportar as pessoas para onde elas quisessem. Não havia barreiras, nem impedimentos, nem censura, nem nada. E essa viagem era tão complexa que em segundos, qualquer pessoa se transporta no tempo e voltam àqueles sentimentos vividos num determinado momento. Também se lembrou do pai, já falecido e o dia em que estavam num churrasco no interior de Minas Gerais. Na volta pra casa, ouvia esta canção. Imediatamente, viera aquele momento em sua cabeça.

Música é um negócio muito sério. É uma linguagem divina que fala direto na alma sem que o receptor tenha qualquer capacidade de impedir. É uma porta em que se abrem inúmeras sensações, às vezes até um arrebatamento momentâneo em que o corpo fica inerte e o cérebro viaja pelo tempo...

“ Ei…escute...! ” All at sea again…and now my hurricanes have brought down this ocean rain…To bathe me again…My ship's a sail…Can you hear its tender frame… Screaming from beneath the waves…Screaming from beneath the waves..
“ É linda, né ?”
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* Que todos tenham um 2012 iluminado e com muita prosperidade ! Abs!