terça-feira, 23 de julho de 2013

* O dia em que conheci Jello Biafra !


"Conheci" Jello Biafra num encontro casual. Normalmente, penso que encontros do cotidiano com a característica de casualidade, sempre são interessantes, por uma razão simples. Com o espírito totalmente desarmado, as coisas se encaixam mais tranquilamente. Afinal é sabido que ir contra a natureza é algo que geralmente não traz bons resultados em todos os aspectos. Algumas pessoas que não tem muita noção disto e acabam por fazer coisas que vão contra estes importantes princípios. E fazer algo que é contra as leis naturais, ou que sejam as suas “leis naturais”, sempre pode dar grandes problemas.

O dia em que o conheci este “senhor” morava nos confins de uma rua, numa casa que hoje não existe mais, na cidade onde resido. Hoje, no lugar, há uma avenida e minha antiga casa foi incorporada a ela. Lembro-me que subia a minha rua, virava a esquerda e direita para ir à casa de um grande amigo que tenho até hoje.

Nesta época, do alto dos dezessete anos, com nossas inquietudes e nenhuma grana no bolso, ficávamos debatendo assuntos diversos e ouvindo música. Isso era um “grande evento”. Aquele monte de moleques ávidos por descobertas da vida, ainda nos tempos do LP.

Nesta época, lembro que saia da minha casa para ir à biblioteca municipal apenas para estudar sobre assuntos que tínhamos interesse e às vezes mínimo acesso (bem diferente de hoje..tudo na ponta dos dedos...rs). Saber algumas coisas, não era tão fácil quanto hoje, visto que não havia internet. Porque tudo chegava aqui com atraso ou não havia acesso fácil.

Lá na casa deste meu amigo, era papo e música..Até um dia em que vejo uma capa preta e cinza com um carro pegando fogo..Aquela imagem pra quem tem 17 anos é emblemática. O que haveria dentro daquela “bolacha”? Qual seria a mensagem?

Nessa época trabalhava como Office-boy, aquela “ocupação do século passado” e que hoje não existe mais. Pelo menos naqueles moldes. Então rumava pro centro da cidade com minha fita AFS 60 pra pagar pra gravar aquela preciosidade que não tinha a mínima condição de comprar. Aliás, nem toca disco tinha em casa. E buscava na outra semana pra ouvir.


Jello Biafra me ensinou coisas importantes. Seu instrumento de comunicação era a música. Mas o que tudo aquilo me ensinou, talvez não tenha nada a ver com o provável objetivo dele. Uma das coisas que “aprendi” foi desenvolver a minha própria identidade, saber que todo ser humano é importante e deve ter o seu próprio raciocínio sem se deixar levar pela maioria. A maior lição disto tudo está na frase “faça vc mesmo” que determinou o caminho das bandas de punk rock no início e que vou acrescentar para os dias de hoje. A importância de ter sua identidade, não se deixar levar pelas campanhas e consumismo que somos bombardeados todos os dias. Ser um “universo autêntico”, não se render aquilo que vou chamar aqui de “modernistas do comportamento padrão”, que defendem idéias que desvalorizam as boas relações humanas, ser mais um colaborador para as “inhacas” do mundo. É o carro com som alto na rua pra todo mundo ouvir, são as atitudes “espertas” utilizadas neste mundo já tão difícil de “participar”. Cultive as boas amizades. Aquelas que vão te fazer aprender alguma coisa, o respeito ao próximo. A fraternidade ainda vale à pena ! Esse país precisa crescer e temos que dar a nossa pequena contribuição como cidadão neste grande universo. Seja vc mesmo ! 

Eric Reed Boucher (Boulder17 de junho de 1958), mais conhecido pelo nome artístico de Jello Biafra é um cantor e compositor de punk rock e ativista políticoamericano, ex-vocalista da banda Dead Kennedys.

* Dedico este texto ao meu amigo da casa citada no texto: Silvio Braga dos Santos