Sabe como chegou até aqui?

A ambulância estacionou na porta do hospital e eles desceram. Abriram a porta traseira e rapidamente o colocaram lá dentro. Deitado na maca, um pouco tonto, nem percebeu subir os doze andares do prédio e tampouco o barulho das pessoas na recepção. Imediatamente uma enfermeira lhe deu dois comprimidos e lhe aplicou uma injeção. O médico fez algumas perguntas sobre o que estava sentindo e percebendo a dificuldade em responder, imóvel, deixou pra lá. No bolso um celular que a enfermeira recolheu e passou a realizar alguns contatos, visto que havia chegado sem ninguém. Tentou um, dois três, sem sucesso. Resolveu esperar que alguém ligasse. 

Em estado de letargia, sem saber se estava sonhando ou acordado, lembrou do passado. Era uma viagem numa pequena cidade, estava com um grupo de amigos. Todos dormiam e três e meia da manhã um deles começou a passar mal. Tinha um sono pesado, mas acabou acordando. Ao lado, viu que o colega se debatia, o que parecia ser uma convulsão. Desceu as escadas correndo e preocupado. O que vou fazer? Não conhecia um centímetro da cidade e tampouco sabia falar o idioma. Saiu pela avenida vazia a procura de um táxi, apreensivo. Não sabia se corria riscos, se havia perigo, se encontraria alguém, se seria roubado. Coisa de estrangeiro fora da sua cidade.

Lá no final da avenida, avistou um táxi. O taxista sinalizou para que entrasse. Subiu a avenida como um foguete, diante do desespero do passageiro. Não havia carros, não havia semáforos vermelhos, não havia medo e a escuridão da noite.

Passava das onze da noite, quando deu o primeiro suspiro. Os médicos imediatamente o colocaram na sala de terapia intensiva. O telefone chamava, mas ninguém atendia. Acordou com alguém que passava uma toalha em seu rosto. A enfermeira perguntou se estava melhor, que já havia passado quase cinco horas no local. Você já pode ir pra casa! Balançou a cabeça verticalmente, sem muita certeza.O médico lhe perguntou: Sabe como chegou até aqui? Pensou...pensou por alguns minutos e respondeu: "Lembro...mas não sei como ! São as escolhas que fazemos, algumas boas e outras nem tanto..."

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